
Comentário: Ettore Scola (1931-2016) foi um cineasta italiano. Ele estudou direito em Roma, passando depois ao jornalismo, ao rádio e ao trabalho como argumentista. Sua estreia como realizador deu-se em 1964, com a comédia "Fala-se de Mulheres". Seguiram-se outros filmes como "Nós Que Nos Amávamos Tanto" (1974), que ganhou o Prêmio César de melhor filme estrangeiro. Assisti dele apenas "O Baile" (1983). Desta vez vou conferir "Feios, Sujos e Malvados" (1976).
José Geraldo Couto da Folha SP nos conta que "'Feios, Sujos e Malvados' é um dos mais festejados trabalhos do italiano Ettore Scola. Ganhou o prêmio de direção no Festival de Cannes em 1976 e foi cultuado em seu tempo quase como um modelo de comédia de crítica social. Chamou atenção sobretudo por mostrar uma realidade miserável que não se localizava no longínquo Terceiro Mundo, mas na periferia de Roma: da favela em que se passa a história avista-se, ironicamente, a cúpula da catedral de São Pedro, no Vaticano. Os deserdados ao alcance da vista (e da indiferença) da Igreja Católica.
A ação é centrada num aposentado, Giacinto (Nino Manfredi), que vive com sua numerosa família e agregados num barraco imundo da favela. Ele vive o tempo todo acossado pelo medo de que seus parentes roubem o dinheiro que esconde desde que foi indenizado por um acidente de trabalho.
Em torno desse núcleo dramático, desfilam marginalizados de todo tipo: assaltantes, prostitutas, travestis, mendigos, aleijados, trambiqueiros, crianças de rua. Se há um grande mérito nesse trabalho de Scola, é justamente o de combinar o desenvolvimento dos conflitos dramáticos entre Giacinto e sua família com uma exposição quase documental de uma situação social extrema".
O que disse a crítica: César Barzine do site Plano Crítico avaliou com 2 estrelas, ou seja, ruim. Disse: "As tramas que se discorrem são desinteressantes, as interpretações estão próximas de causarem antipatia, e não há nada de complexo ou positivo a ser apontado no desenvolvimento de personagens daquela família. No final das contas, 'Feios, Sujos e Malvados' parece realmente se resumir a uma obra para não ser levada a sério. Suas reflexões são ofuscadas pelo tratamento recebido, fazendo com que, neste trabalho tragicômico, o lado cômico se sobressaia ao trágico, que, devido ao completo exagero, faz com que não saia ganhando nem um lado e nem o outro. Scola não soube sintetizar esses dois elementos, e o resultado é uma experiência enfadonha com uma boa premissa".
O site Cinema com Rapadura avaliou com 5 estrelas, ou seja, obra-prima. Escreveram: "Ettore Scola, ao fazer essa belíssima pérola do cinema universal, me mostrou, através do carregado humor-negro, que seus pobres, sujos e ignorantes personagens, mais uma vez, são corrompidos pelo dinheiro, e que as crianças, a quem depositamos a esperança de dias melhores, na verdade estão presas neste mar de lama de forma que, dificilmente, conseguirão perceber, algum dia, seus potenciais".
O que eu achei: Se na época do lançamento esse filme foi considerado bom - ganhou o prêmio de direção no Festival de Cannes em 1976 – atualmente ele seria considerado ofensivo. A forma como Scola retrata a comunidade onde vive o protagonista é grotesca, pegando todos os estereótipos relacionados às pessoas menos favorecidas e transformando isso numa caricatura de cidadãos "feios, sujos e malvados", assim como nos anuncia o título. É dessa suposta feiura, sujeira e maldade que Scola vai tentar extrair uma comédia que resulta mais num filme tragicômico com poucas ou nenhuma situação que, de fato, nos faça rir. Revisto hoje, ele revela suas inúmeras falhas. O protagonista, que representa um senhor já aposentado devido a um acidente de trabalho, possui uma maquiagem para simular envelhecimento que até eu faria melhor. A definição dos personagens secundários é confusa. O ritmo é frouxo. E há falhas técnicas notórias, como a evidente troca de um bebê real por um boneco no meio de uma cena, a dublagem das crianças extremamente mal feita e uma trilha sonora das piores que já ouvi. Apesar do talento de um ator como Nino Manfredi, nem ele salva o filme. Se em Rosselini e De Sica, a realidade mais sórdida possui a centelha do humano, aqui temos a mais absoluta falta de poesia ou empatia, resultando numa pretensa comédia que reúne assaltantes, prostitutas, travestis, mendigos, aleijados, trambiqueiros e crianças de rua num recorte onde só há sordidez, feiura e sujeira. Se a ideia era entreter e divertir fazendo a denúncia de uma situação social injusta, faltou traquejo. Ao fim, o que sobra não é reflexão nem humor, mas a incômoda sensação de que a miséria virou caricatura.
José Geraldo Couto da Folha SP nos conta que "'Feios, Sujos e Malvados' é um dos mais festejados trabalhos do italiano Ettore Scola. Ganhou o prêmio de direção no Festival de Cannes em 1976 e foi cultuado em seu tempo quase como um modelo de comédia de crítica social. Chamou atenção sobretudo por mostrar uma realidade miserável que não se localizava no longínquo Terceiro Mundo, mas na periferia de Roma: da favela em que se passa a história avista-se, ironicamente, a cúpula da catedral de São Pedro, no Vaticano. Os deserdados ao alcance da vista (e da indiferença) da Igreja Católica.
A ação é centrada num aposentado, Giacinto (Nino Manfredi), que vive com sua numerosa família e agregados num barraco imundo da favela. Ele vive o tempo todo acossado pelo medo de que seus parentes roubem o dinheiro que esconde desde que foi indenizado por um acidente de trabalho.
Em torno desse núcleo dramático, desfilam marginalizados de todo tipo: assaltantes, prostitutas, travestis, mendigos, aleijados, trambiqueiros, crianças de rua. Se há um grande mérito nesse trabalho de Scola, é justamente o de combinar o desenvolvimento dos conflitos dramáticos entre Giacinto e sua família com uma exposição quase documental de uma situação social extrema".
O que disse a crítica: César Barzine do site Plano Crítico avaliou com 2 estrelas, ou seja, ruim. Disse: "As tramas que se discorrem são desinteressantes, as interpretações estão próximas de causarem antipatia, e não há nada de complexo ou positivo a ser apontado no desenvolvimento de personagens daquela família. No final das contas, 'Feios, Sujos e Malvados' parece realmente se resumir a uma obra para não ser levada a sério. Suas reflexões são ofuscadas pelo tratamento recebido, fazendo com que, neste trabalho tragicômico, o lado cômico se sobressaia ao trágico, que, devido ao completo exagero, faz com que não saia ganhando nem um lado e nem o outro. Scola não soube sintetizar esses dois elementos, e o resultado é uma experiência enfadonha com uma boa premissa".
O site Cinema com Rapadura avaliou com 5 estrelas, ou seja, obra-prima. Escreveram: "Ettore Scola, ao fazer essa belíssima pérola do cinema universal, me mostrou, através do carregado humor-negro, que seus pobres, sujos e ignorantes personagens, mais uma vez, são corrompidos pelo dinheiro, e que as crianças, a quem depositamos a esperança de dias melhores, na verdade estão presas neste mar de lama de forma que, dificilmente, conseguirão perceber, algum dia, seus potenciais".
O que eu achei: Se na época do lançamento esse filme foi considerado bom - ganhou o prêmio de direção no Festival de Cannes em 1976 – atualmente ele seria considerado ofensivo. A forma como Scola retrata a comunidade onde vive o protagonista é grotesca, pegando todos os estereótipos relacionados às pessoas menos favorecidas e transformando isso numa caricatura de cidadãos "feios, sujos e malvados", assim como nos anuncia o título. É dessa suposta feiura, sujeira e maldade que Scola vai tentar extrair uma comédia que resulta mais num filme tragicômico com poucas ou nenhuma situação que, de fato, nos faça rir. Revisto hoje, ele revela suas inúmeras falhas. O protagonista, que representa um senhor já aposentado devido a um acidente de trabalho, possui uma maquiagem para simular envelhecimento que até eu faria melhor. A definição dos personagens secundários é confusa. O ritmo é frouxo. E há falhas técnicas notórias, como a evidente troca de um bebê real por um boneco no meio de uma cena, a dublagem das crianças extremamente mal feita e uma trilha sonora das piores que já ouvi. Apesar do talento de um ator como Nino Manfredi, nem ele salva o filme. Se em Rosselini e De Sica, a realidade mais sórdida possui a centelha do humano, aqui temos a mais absoluta falta de poesia ou empatia, resultando numa pretensa comédia que reúne assaltantes, prostitutas, travestis, mendigos, aleijados, trambiqueiros e crianças de rua num recorte onde só há sordidez, feiura e sujeira. Se a ideia era entreter e divertir fazendo a denúncia de uma situação social injusta, faltou traquejo. Ao fim, o que sobra não é reflexão nem humor, mas a incômoda sensação de que a miséria virou caricatura.